11/29/2015





UM SONHO


Quando sonho, penso em tudo o que já passou,
mas não esqueço do que há por vir,
É o que o meu jeito de sonhar é com os pés bem presos ao chão,
A sensação gostosa de entusiasmo me toma pela mão e me leva até o céu

Nesse céu, as estrelas são brilhantes,
mas mesmo assim,

não deixam borrar a visão

A visão que quer permanece límpida,
 ainda que molhada do sal de lágrima
É que essa lágrima não escapa o canto do olho,
ela só diz que está ali
Ainda que a saudade dos tempos de crianças me tome pelo braço,
Eu não deixo ela me levar
E o meu sonho fica bem concreto, 
bem ligeiro, 
bem secreto, 
dentro do meu travesseiro.


Autora: Glenda Almeida Pratti

11/27/2015

Um outro lado da paixão


As pessoas costumam falar da paixão como um certo esmaecimento do eu em função do outro, mas essa, é só mais uma interpretação. Talvez seja justamente o contrário. Há um outro lado da paixão. A paixão, pode ser entendida também como uma certa "licença" para se ver desejante. Quando se está apaixonado parece que tudo se justifica mesmo sem justificação. É a loucura permitida!




EI, LUA!


Ei lua, não demore muito em chegar 
Você vem com brilho 
E eu com o olhar 

Você, zombando da tristeza 
Aí, sempre altiva! 
é dos chorões de plantão, 
a sua perdição. 

Talvez seja muita sacanagem, 
A desses homens que comparam você com suas musas: 
Eles falam da beleza, 
Mas a sua... 
é atemporal. 
E a delas? 

Não seria... carnal? 

Mas... 
E se for a beleza da alma? 
Aí, só se for comparada ao seu brilho que se vê apenas na escuridão! 
Talvez, esse mesmo seja o caso da paixão: 
Aquilo que se vê, justamente, na escuridão, 
Pois é no fechar de olhos que a paixão aparece. 

Se tratando de paixão, 
vejo demais,
 onde não há nada para ver; 
E quando deixo de ver, 
é que acabo vendo mais do que deveria 
Por isso, lua,
Quando olho demais, não é para te ver, 
mas é para ver em mim aquilo que consigo ser. 
E é só por isso, lua, 
que quero que você não demore! 

Quando quero que você chegue logo, não é para te ver, 
mas sim, para me ver!
Pois só por alguém, me permito aparecer. 
Portanto, lua, 
Não demore muito, pois eu quero me ver 
Mas não quero espelho,
não quero reflexo e nem reflexão 
Não quero imagem
Quero me ver amar, gozar, sonhar 
Quero me ver em ação 
E do jeito mais egoísta possível: 

Na paixão.

11/26/2015

Sobre sair ou não do lugar



PEDREGULHO


Mais uma vez a janela... 
Talvez a janela seja a mesma, 
Mais a garota que se recosta nela não. 
Eu mudo de tempos em tempos 
E de debruços em debruços. 
Quando olho para aquela janela, ela nunca é a mesma. 
A cena sempre é diferente 
E tem eu : 
Que mudo o tempo todo sem sair do lugar. 

Talvez as maiores mudanças sejam aquelas que acontecem quando se está em movimento. 
Aqui, parada, só posso dizer que mudei; e a mudança não pode fazer muito por mim, se eu ficar aqui, parada. 
É que entrar em movimento, traz constrangimento, traz vergonha e incertezas. 
É que a coragem muitas vezes falta; nesse coração de adolescente que enfrenta a falta, mas que ainda assim, é refém dela. 
Melhor seria não ter discursos, não ter sermão 
Parece que assim a vida fica mais tranquila... mas será? 
Talvez eu nunca soube e talvez eu nunca saiba 
Sem ultrapassar o lado de lá da janela. 

Mas será ela, a janela, a moldura que deixa as coisas mais belas? 
Será que fora dela as coisas mantém a mesma cor, o mesmo aroma e mesmo sabor? 
Não sei, só sei que vejo daqui um mundo inesperado 
Mas talvez, não haja descoberta alguma a ser feita. Só questões de uma garota e sua janela. 



Autora: Glenda Almeida Pratti

11/19/2015

O que realmente vale a pena ser




SER BEM-VIVIDA

De todas as coisas que posso se
Que posso ter 

Que posso ver 
É a escrita aquilo que me faz ser bem: 
Bem amada 
Bem falada 
Bem vivida 
Bem de vida 
De bem com a vida

De todas as maneiras que se possa ser 
Ser escritora é aquela que apraz não só a alma mais também o bem viver 
De mim só sei quem sou, por escrever de mim o que de mim só sei por letra 
E que só agora, que volto ao que realmente sei que sou e que sei ser, 
Deixo de ser quem eu era para os outros e volto a ser quem eu sou por mim, 

Para mim.



Autora: Glenda Almeida Pratti

1/06/2015

UMA QUESTÃO DE IDENTIFICAÇÃO



Observa-se várias formas de expressão artística. Algumas se encontram mais acessíveis como o grafite, disponíveis nos muros da cidade para quem quiser ver; outras, são pinturas, gravuras, esculturas que tem um caráter mais restrito, são encontradas geralmente em locais privados, ou em espaços próprios para exposição. Há ainda, demonstrações artísticas que se revelam a partir da escrita em textos literários que se dividem em gêneros tais como: as poesias, os contos, as crônicas, as ficções etc. 
 
De tempos em tempos, diante dessas várias demonstrações artísticas nos deparamos com questionamentos que visam estabelecer ou criar parâmetro para a categorização dessas formas de expressão. De um lado, a arte sendo utilizada em um sentido mais geral para qualificar um tipo de ocupação profissional na sociedade. Diz-se artista, aquele que trabalha com algum tipo de arte. O cantor de funk, o ator, o escritor, o grafiteiro, o artesão e todos aqueles que de algum modo lidam com um tipo de atividade diferente das funções tradicionais, são consideradas pessoas que fazem arte, e por isso, artistas. Em alguns casos, profissionais como o administrador, o advogado, médico etc, também possam ser considerados artistas quando em suas funções, extravasam aquilo que se espera deles. Por outro lado, temos um sentido de arte, utilizado para se referir aquilo que chamam de “arte mesmo” (com muitas aspas!). É um sentido que ouvimos as pessoas utilizarem quando se referem a manifestações artísticas consideradas “clássicas” como  literatura, pintura,  musica, sendo que, nesse tipo de referencia não haveria espaço para o alternativo, ou aquilo que é ou está fora dos padrões estabelecidos. Assim, gêneros musicais como o funk ou o pagode, e ainda, expressões artísticas como o grafite estariam fora dessa categoria por não serem consideradas representantes de uma “verdadeira arte”. 
 
Talvez seja importante se questionar sobre o que será que está em jogo quando utilizamos um discurso desse tipo? O que estamos considerando arte para falar dela dessa forma, sob esses parâmetros? Percebe-se que existe um sentido de arte que é utilizado quando se trata de manifestações e expressões artísticas e outro quando se trata do conceito de arte. A impressão que se tem é que um dos sentidos admite liberdade e criação e o outro não, pois estaria condicionada a modelos e padrões estabelecidos. Será que quando falamos de modelos e padrões estabelecidos ainda estamos falando de arte ou estamos falando de outra coisa?

No meu entendimento, a arte é expressão de liberdade e criação. Toda arte fala de uma verdade que eu não preciso concordar. Só preciso me identificar ou não com ela. Essa verdade, ao meu ver só pode ser dita pela arte, e ela fala de algo que está ali, na sociedade, no mundo, mas que não está ali para o ouvido de todos. Se algumas musicas chocam, escandalizam e revoltam, provavelmente, elas não fazem por acaso.  Ninguém se afeta com algo que não tem importância ou significado. A arte muitas vezes incomoda, e talvez, o incômodo seja justamente o que se pretende. Não nos afetamos ou nos incomodamos com qualquer coisa. Nos incomodamos e nos importamos com coisas especificas. Quando um tipo de expressão artística provoca muitas críticas, talvez seja porque não queremos ouvir aquilo que ela diz.  Por isso, entendo que ser artista é se doar. Doar-se no sentido de se oferecer como sujeito a encarnar esse discurso de liberdade. O artista se oferece como corpo para que a arte possa falar.  É uma entrega pois de algum modo, o artista se lança aos olhos do outro como um objeto a partir de sua produção. Partindo-se do pressuposto de que a arte não fala aos ouvidos de todos; de que nem todos querem ouvir o que a arte tem a dizer, e ainda, que nem todos gostam do jeito que a arte se expressa;  o artista enquanto sujeito produtor da obra, doa seu corpo às críticas e aos elogios. Sustentar essa posição de porta voz, não é nada fácil.  A obra fala do artista,  mas fala também daquilo que está no mundo e precisa ser dito por alguém.  

Talvez a recepção da obra de arte seja uma questão de se identificar ou não com aquilo que se diz pela obra. Quando canto, canto uma música que a mim faz sentido, embora não faça sentido para outros. Dessa experiência, não preciso que outros façam parte. Ao meu ver, a maior contribuição que a arte pode oferecer é a possibilidade de nos compreendermos a partir de um outro discurso que não o da racionalidade. Se para ouvir uma determinada música eu precisar de permissão ou reconhecimento de outros para isso, posso considerar que tem algo acontecendo e que eu preciso me atentar para isso.

Autora: Glenda Almeida Pratti