12/27/2014

Às vezes, não há muito mesmo o que dizer...



POUCAS PALAVRAS


Um texto curto
num dia cinzento

luto.


Autora: Glenda Almeida Pratti

A beleza das pequenas coisas...




DISSONÂNCIAS DE UM MOVIMENTO 

O lento vento, venta a árvore,
Folhas mexem mas ela continua parada.
O tronco rebola
mas o galhos sacodem as folhas:
As secas caem
e as verdes
são sacudidas para um lado só.
O rebolar é lento e gracioso,
mas o sacudir é agitado e descompassado
Como pode, árvore,
sacudir, rebolar e ficar parada ao mesmo tempo?
É que cada parte, é parte de um algo só.
O vento não tem partes,
ele é um todo de diferenças
cuja diferença de efeito
se sente em cada parte.
O vento é em seus efeitos no outro,
sozinho, ele nada é,
e mesmo assim, continua sendo.



Autora: Glenda Almeida Pratti

Em um mundo que parecer ser só científico...



CIENTIFICIDADE 

Aí fica ciência
sai cidadão
fica objeto
dada a minha ciência
os dados, puros dados são
o instrumento captou
mas o que dizem os dados?
- Diga dado! Dado não está?
- Não, são só os dados!
- E o que dizem eles?
- Nada dado por si só. 
- Ha, mania justa!
justa fica,
fica ciência
cientifica. 




Autora: Glenda Almeida Pratti

Esquecimento e o seu movimento de ser


TRAÇO DO ESQUECIMENTO

Vem e vai o vão
de esquecer o vai
vem esquecer vai
o vão

o vão que mostra
mas quando esquece o lastro
- meia volta, vão!

Mas só volta quando lembra
deste lastro traço
e vão.



E abrir a porta
pra pegar o laço
isto faz do traço
nada vão.



E apressa o passo
e busca o laço
que fez o traço
e vem.



mas vê que o traço
remete ao laço
e esquece o passo
vão.


Autora: Glenda Almeida Pratti

Falando do passado...




O PASSADO PASSO



Um passo

uma hora
e demora


Agora, anda

uma dança que des-anda de vez em quando
quando vê que se vai o que sempre fica.


Outro passo

uma hora
demora


e para e pensa

segura e olha
se fica agora, se ri ou se chora
em perder a hora de ir embora.


Autora: Glenda Almeida Pratti

Às vezes é uma questão de vontade!


VESTIBULAR

- Hoje tá assim: Sem graça!
Não quero por baton, vou só amarrar o cabelo. Calça jeans e camiseta!
- Sapato? Esse aqui, que é só enfiar o pé...

Tô com sono!
Vai, faz de qualquer jeito! (Depois eu vejo... Manda logo!)
Ai, quebrei o copo! (Depois eu cato...)

Que sono! (Quero imbora...)
- Será que vai demorar???
Tump, tump, tump! Tump, tump, tump!

- Há... já vou!
- Já?
- Ano que vem eu tento de novo...

Autora: Glenda Almeida Pratti




Sobre a relação que muitas vezes construímos com o saber...




EU NÃO SABIA

Eu não sabia
Que era difícil saber 
Que era doido sofrer de não saber 
Eu sofria, de não saber sofrer a dor do não saber
Eu sabia que sofria sem saber de quê
Não sabia que o não saber era dor
Achava que sabendo a dor pararia
Mas tentando saber, parei de ser
Então, não sabia mais o que sabia
Eu era só futuro
Com furo 
Confuso
No ser.

Eu não sabia
Que sabia não saber
Mas achava que saber, 
Era tudo.

O sábio sabe tudo
Inclusive, sabe,
Que, na verdade,
Nada sabe
Tá aí seu maior saber.

Quem sabe Isso, não precisa saber de nada
Pois já sabe o que precisa saber:
Que o saber não é tudo, pois ainda se é, mesmo sem saber.
Não fui sábia, porque sabia demais
E quem sabe muito, não sabe muito de quê
Só preenche esse sofrer
Que é ter que viver sem saber
Tudo
Pois tudo não é saber,

É outra coisa.

Autora: Glenda Almeida Pratti

12/26/2014

Brincando com as palavras. Para bom entendedor...


MINHA CARA NOTA


Minha cara, nota:

A cara quadrada

e o barato pobre.


a cara quadrada

pega o quadrado caro

e compra o barato pobre

pobre barato é legal,

mas ilegal.



A cara nota que barato fica

pega outro quadrado caro

e compra outro barato pobre

afinal, 
barato é barato de qualquer jeito...


Será?





Autora: Glenda Almeida Pratti


Uma forma de descrever a minha relação com a arte


EU E ELA


Gosto muito de arte, e a vejo em toda parte. 

Porém, 

Não fico em todos os lugares onde ela aparece.

Em alguns lugares,

Me sinto meio deslocada e por isso nem entro,

Prefiro encontrá-la onde me sinto mais à vontade.


Às vezes saímos juntas, às vezes saio sozinha,

Mas confesso que quando saio só, já não me sinto tão à vontade, pois é difícil não pensar nela.

Às vezes quero que ela venha para onde estou, à força.

Com o tempo, aprendi que assim não tem conversa!

Ela só vem quando estamos livres, eu e ela.


Já a procurei quando estava comprometida em outros pensamentos

E ela, não aceita ficar comigo nessas condições, vai embora.

Da última vez, foi. Achei que nunca mais ia voltar

Achei que tinha superado, que a tinha esquecido,

Foram anos...

Me ocupei de outras coisas mas que no final,

Eram só coisas e nada mais.

Eu a troquei por quase nada, mas acima de tudo,

Traí a mim mesma.

Resolvi voltar, e ela me aceitou novamente

Ainda me culpo, mas ela me mostra a cada dia que tudo tem seu tempo

E o meu, foi necessário. 


Estamos juntas agora!


Não sei se para sempre...

Ela não faz promessas e nem dá garantias

Confesso que é difícil se acostumar com essa liberdade

Tendo a voltar para o que já conheço, buscar a segurança...

Mas quando estou com ela, sei que tudo é diferente!

Ela me faz saber quem sou, o que quero, e ainda me dá prazer.

Ficar com ela é uma decisão difícil de sustentar.

Já tive vergonha, tentei esconder

Já tive medo do que os outros vão pensar

Mas sosseguei quando me percebi

No lugar onde eu gosto de estar:



Encontrando meu lugar.






Autora: Glenda Almeida Pratti